in a minute there is time for decisions and revisions which a minute will reverse
Maturidade
Uma sensação estacionária...como, suponho,
Terei, até todo o meu corpo se tornar
Incerto, cansado;
Então começarei a sentir o andor
Tomar conta de mim, doentio e dominador -
Alguns dizem, desejado.
E isto deve ser
o auge da vida... contorço o olhar
Como se em dor; pois é dor pensar
Esta encenação
De compensador acto e contra-acto
Derrota e falsificação, perfaz, de facto
O meu tempo mais são.
Philip Larkin,
Maturity, Collected Poems, faber and faber, 1988, Londres, pág. 62.
d.
Maturity
A stationary sense... as, I suppose,
I shall have, till my single body grows
Inaccurate, tired;
Then I shall start to feel the backward pull
Take over, sickening and masterful -
Some say, desired.
And this must be the prime of life... I blink,
As if at pain; for it is pain, to think
This pantomime
Of compensating act and counter-act
Defeat and counterfeit, makes up, in fact
My ablest time.
original
Variação sobre a Palavra Dormir
gostava de te ver a dormir,
coisa que poderá não acontecer.
gostava de te ficar a ver,
a dormir. gostava de dormir
contigo, de entrar
no teu sono enquanto a vaga escura e lisa
desliza sobre mim
e caminhar contigo através da luzente
floresta trémula de folhas verde azuis
com o seu sol aguado e as três luas
em direcção à gruta a que deverás descer,
em direcção ao teu maior medo
gostava de te dar o ramo de prata,
a pequena flor branca, a simples
palavra que te resguardará
da mágoa que está no centro
do teu sonho, da mágoa que está
no centro. gostava de seguir
os teus passos na longa subida
mais uma vez e tornar-me
no barco que te remaria de volta
cuidadosamente, uma chama
em duas mãos postas
até onde jaz o teu corpo
ao meu lado, e tu entravas
nele tão fácil como respirar
gostava de ser o ar
que te habita por um momento
apenas. gostava de passar tão desapercebida
e ser tão necessária.
Margaret Atwood,
Selected Poems II: 1976-1986, Houghton Mifflin, Boston, 1987.
s.
Variation on the Word Sleep
I would like to watch you sleeping,
which may not happen.
I would like to watch you,
sleeping. I would like to sleep
with you, to enter
your sleep as its smooth dark wave
slides over my head
and walk with you through that lucent
wavering forest of bluegreen leaves
with its watery sun & three moons
towards the cave where you must descend,
towards your worst fear
I would like to give you the silver
branch, the small white flower, the one
word that will protect you
from the grief at the center
of your dream, from the grief
at the center. I would like to follow
you up the long stairway
again & become
the boat that would row you back
carefully, a flame
in two cupped hands
to where your body lies
beside me, and you enter
it as easily as breathing in
I would like to be the air
that inhabits you for a moment
only. I would like to be that unnoticed
& that necessary.
original
Excursão ao Planeta Mercúrio
certas noites, um pouco antes da dourada
espuma do horizonte ter endurecido bem
podeis ver uma pequenina ilha de ferro
mesmo muito perto do sol.
todo crateras e espelhos, o estranho país
do planeta Mercúrio - um mistério
sem mim sem ar,
sem ti sem som.
nesse violentamente mágico, pequeno sítio
o céu corre desenfreado
como um embrulho azul agitado e deixado
da janela de um carro.
agora quente agora frio
o chão move-se depressa,
umas poucas pedras saltitam ao redor
procurando um apoio
mas fragmenta-se, desliza
todo o conceito está apenas
vagamente seguro
por poucos fracos frémitos de gravidade.
ó o tempo é terrível lá:
milenares aguaceiros de pó
tudo caspa e cascas soltas
de criaturas ágeis de mais para existirem:
pobres pedintes meliantes
rapazes de vestidos
que ganham vida e se desfazem
à mercê da metamorfose.
não, nada se acumula aqui
nem mesmo nevoeiro
nada mais que cintilantes princípios
preparando-se para se manifestar.
quanto à catástrofe
das noites em mercúrio,
escondendo-se num espaço de pedra desfeita
a cerca de duzentos graus abaixo de zero
os ventos de pés de pluma
abandonam aí os seus disfarces,
vão em sapatos de treino
roubando e tomando
e as suas deslumbradas expressões
foram insonorizadas, mesmo assim
eles prosseguem uivando
por contentamento puro contentamento
Alice Oswald,
Excursion to the Planet Mercury in Woods etc., faber and faber, Londres, 2005, pág. 54.
d.
original
Iubiguine
Tu começas assim:
esta é a tua mão,
este é o teu olho,
aquilo é um peixe, azul deitado
no papel, quase
da forma de um olho.
Esta é a tua boca, isto é um O
ou uma lua, o que
preferires. Isto é amarelo.
Para lá da janela
está a chuva, verde
porque é Verão, e para além dela
as árvores e depois o mundo,
que é redondo e tem só
as cores destes nove lápis de cor.
Este é o mundo, que é mais cheio
e mais difícil de aprender do que eu fiz parecer.
Fazes bem em esborratá-lo assim
com o vermelho e mais
o laranja: o mundo queima.
Logo que aprenderes estas palavras
vais saber que há mais
palavras do que podes aprender.
A palavra
mão flutua sobre a tua mão
como uma pequena nuvem por cima de um lago.
A palavra
mão prende
a tua mão a esta mesa,
a tua mão é uma pedra quente
que eu seguro entre duas palavras.
Esta é a tua mão, estas são as minhas mãos, este é o mundo,
que é redondo mas não é plano e tem mais cores
do que as que podemos ver.
Ele tem um início, ele tem um fim,
é a isto que
regressarás, esta é a tua mão.
Margaret Atwood, «You Begin», 1978.
r. (vai dedicado)
You Begin
You begin this way:
this is your hand,
this is your eye,
that is a fish, blue and flat
on the paper, almost
the shape of an eye.
This is your mouth, this is an O
or a moon, whichever
you like. This is yellow.
Outside the window
is the rain, green
because it is summer, and beyond that
the trees and then the world,
which is round and has only
the colors of these nine crayons.
This is the world, which is fuller
and more difficult to learn than I have said.
You are right to smudge it that way
with the red and then
the orange: the world burns.
Once you have learned these words
you will learn that there are more
words than you can ever learn.
The word hand floats above your hand
like a small cloud over a lake.
The word hand anchors
your hand to this table,
your hand is a warm stone
I hold between two words.
This is your hand, these are my hands, this is the world,
which is round but not flat and has more colors
than we can see.
It begins, it has an end,
this is what you will
come back to, this is your hand.
original
Wednesday, May 03, 2006 ::
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O Reacordar
Mais cedo ou mais tarde
temos de chegar ao fim
da perseverança
em reestabelecer
a imagem a imagem de
a rosa
mas não ainda,
dizes, estendendo o
tempo indefinidamente
pelo
teu amor até uma total
nascente
reacender
a violeta ao exacto
chinelo de senhora
e assim pelo
teu amor o exacto sol
é ele-próprio reavivado
William Carlos Williams,
The Rewaking in The Collected Poems of William Carlos Williams, Volume II ~1939-1962, New York, 1991, pág.437
d.
The Rewaking
Sooner or later
we must come to the end
of striving
to re-establish
the image the image of
the rose
but not yet
you say extending the
time indefinitely
by your love until a whole
spring
rekindle
the violet to the very
lady's-slipper
and so by
your love the very sun
itself is revived
original